Artigos

2023

Instituto Roberto Simonsen e Franklin Book Programs: relações internacionais e políticas editoriais para um Brasil “em desenvolvimento” (1965-1971)

Laura de Oliveira Sangiovanni

Resumo: Em 1965, foi criado o Instituto Roberto Simonsen. O instituto era dotado de um setor específico destinado às publicações, o Centro de Bibliotecnia para o Desenvolvimento (CBD), em cujo rol de atividades estavam incluídas as traduções de livros estrangeiros. A despeito de uma noção de desenvolvimento voltada à solução dos “problemas nacionais”, o CBD atuou em conformidade com o pensamento de Simonsen a respeito da relação entre capital nacional e investimentos estrangeiros, dependendo da parceria com uma instituição norteamericana, o Franklin Book Programs, para a consecução de suas atividades. Este artigo trata das relações entre as duas instituições e do modo como um nacionalismo mitigado, compatibilizado com a agenda norte-americana durante a Guerra Fria cultural, definiu os contornos das políticas editoriais do instituto para o desenvolvimento de um Brasil industrial.

DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.i139p87-104


Las ciencias sociales, la cuestión racial y la Guerra Fría: Brasil como laboratorio

Elizabeth Cancelli

Resumo: Este artículo analiza las pautas políticas y académicas antirracistas que se llevaron a cabo en un esfuerzo por resolver la cuestión negra después de la Segunda Guerra Mundial. El estudio recupera las políticas de la Guerra Fría en un momento en que Brasil es concebido como laboratorio de Ciencias Sociales para buscar soluciones frente al desafío del gran dilema moral que supuso el totalitarismo en relación con la cuestión racial. Esta agenda internacional marcó caminos para incentivar cambios sociales que promovieran los principios de la justicia social y los Derechos Humanos. La presencia de la UNESCO fue fundamental en el sentido de generar políticas públicas que tuvieran un efecto concreto en la superación del racismo y el segregacionismo. Para la creación de estas políticas, más tarde conocidas como “afirmativas”, fueron esenciales los efectos de los cambios sociales debidos a las innovaciones capitalistas en sociedades con un pasado esclavista y la identificación del color como obstáculo para la movilidad social.

DOI: https://doi.org/10.47195/23.824


Politización intelectual y sociología científica en la Guerra Fría cultural El ILARI, Florestan Fernandes y la sociología brasilera (1966-1972)

João Marcelo Maia

Resumo: El artículo analiza la revista América en 1940-1960 como un espacio político-cultural privilegiado para el estudio de procesos históricos nacionales, regionales y transnacionales. Nacida de la confluencia de grupos vinculados al estado revolucionario mexicano, la izquierda y el exilio español en México, delimitó un programa original en defensa de la Revolución Mexicana, el antifascismo, los aliados en la Segunda Guerra Mundial y el exilio republicano español. Eventualmente, en el período de post-guerra y en un proceso de continuidades y rupturas, mantuvo su firme adhesión gobierno y partido revolucionarios, dio mayor cabida a temas culturales y artísticos y se vinculó a grupos locales e internacionales relacionados con la Guerra Fría cultural a favor de Estados Unidos. El análisis de los grupos, ideas y transformaciones de América permite, así, identificar aspectos relevantes de la trama social, política e ideológica detrás del mundo cultural mexicano de la época.

DOI: https://doi.org/10.47195/23.822


A sociologia rural em direção à terceira via: dos Estados Unidos ao Brasil

Gustavo Mesquita

Resumo: Resenha de LOPES, Thiago da Costa. Em busca da comunidade: ciências sociais, desenvolvimento rural e diplomacia cultural nas relações Brasil-EUA (1930-1950) Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2020. 281 p.

DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-59702023000100038  


A filantropia e o projeto de afirmação do mundo branco: An American Dilemma e o antirracismo liberal

Julio Cattai e Wanderson Chaves

Resumo: Resenha de Morey, Maribel. White Philanthropy: Carnegie Corporation’s An American Dilemma and the Making of a White World Order.Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2021. 317p.

DOI: https://doi.org/10.1590/2237-101x02405416

2021

La Guerra Fría cultural em sus revistas. Programa para uma cartografía

Karina Jannello

Resumo: Los últimos 30 años conocieron una verdadera explosión de estudios sobre la Guerra Fría, con un énfasis particular puesto sobre el universo intelectual, y particularmente sobre el mundo de la cultura impresa como instancia crucial para comprender la dimensión cultural del conflicto. Hoy parece asentado que las redes de revistas y estas como espacios de condensación de ideas, pero también de sociabilidades concretas, jugaron un rol fundamental en la difusión de los idearios de los bloques en pugna, estimulando en América Latina una tradición previa y constituyente de su cultura letrada. Quiero concentrarme aquí en las redes revisteriles del Congreso por la Libertad de la Cultura (1950-1979), organización que dio forma al “frente cultural occidental”, por oposición a las políticas impulsadas por el espacio soviético. Estas redes, en las que se insertó un gran número de revistas ya existentes interpeladas por las propuestas del CLC, promocionaron espacios de sociabilidad, difundieron idearios y estimularon la figura del gestor cultural, y luego su profesionalización bajo la nueva figura del cientista social. Estas redes revisteriles configuraron un gigantesco mapa en sí mismo elocuente de las particularidades de la Guerra Fría en su dimensión cultural pero que permite además advertir articulaciones concretas, matices geográficos, engranajes y cruces inesperados, que significan un desafío para desbrozar este período. Si el “frente atlantista” supone algún tipo de homogeneidad, la presencia concreta de esta cartografía nos enfrenta a nuevas preguntas que deben abordarse para poner en perspectiva la compleja trama del campo cultural de la guerra por las ideas.

DOI: https://doi.org/10.4067/S0718-23762021000100131


Anistia chega ao Brasil, ou como uma organização britânica ultrapassou fronteiras, amparou presos políticos e escancarou crimes da ditadura militar

Gustavo Mesquita

Resumo: Resenha de MEIRELLES, Renata. State violence, torture, and political prisoners: on the role played by Amnesty International in Brazil during the dictatorship (1964-1985). Coll. Crimes of the Powerful. London; New York: Routledge, 2020. 154 p.

DOI: https://doi.org/10.1590/1806-93472021v41n86-10


Brasil: políticas de transição e de reconciliação, estratégia de Guerra Fria

Elizabeth Cancelli

Resumo: Esse artigo analisa a criação e o papel que o Latin American Program of the Woodrow Wilson International Center for Scholars, criado em 1979, ganhou na discussão e na organização de encontros científicos, seminários e congressos sobre as questões da transição e da reconciliação como estratégias de superação das ditaduras, especificamente da brasileira, durante a Guerra Fria. Partimos da constatação de que as atividades do Programa de América Latina do Woodrow Wilson Center for Scholars estabeleceu parâmetros de discussão e estratégias políticas seminais para a legitimação das políticas de alianças ao final da ditadura brasileira na Guerra Fria. Centradas na reconciliação, estas estratégias explicitamente não só visaram salvaguardar a coalizão entre liberais e grupos de direita que sustentava a ditadura como trataram de barrar o avanço de correntes de esquerda ao poder. 

DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2021.167231

2020

A leniência e Vargas: falas da História

Elizabeth Cancelli

Resumo: Este artigo analisa correntes historiográficas que se debruçaram sobre os anos Vargas. Seu ponto de partida é o de que análises estruturais advindas fundamentalmente das Ciências Sociais acabaram por desenvolver uma visão leniente sobre esse período da história. Perspectivas críticas a essas interpretações contrapuseram-se às teorias da modernização e sua sucedânea teoria da dependência, e questionaram, do ponto de vista teórico, a precedência da questão social como questão política. Mudanças de paradigmas de análise cruzaram as fronteiras dos limites nacionais, do etnocentrismo e da visão regional de história, da dependência e das disputas palacianas das elites políticas. 

DOI: https://doi.org/10.1590/S2178-14942020000300002


A batalha entre a liberdade e a tirania: Revolução Cubana, guerra de guerrilhas e o desenvolvimento da Doutrina de Contrainsurgência norte-americana nos anos 1960

Pâmela de Almeida Resende

Resumo: O objetivo central deste artigo é analisar a construção e o desenvolvimento das políticas produzidas no âmbito do governo dos Estados Unidos para a América Latina, sobretudo a partir da década de 1960. Tal escolha justifica-se pelo interesse em compreender as ações desenvolvidas para combater os movimentos guerrilheiros que se faziam atuantes nos países latino-americanos, além da influência e do impacto da Revolução Cubana nesse processo. A criação de programas de ajuda externa, com destaque para a Aliança para o Progresso, aliada ao desenvolvimento da Doutrina de Contrainsurgência, ambas no governo de John F. Kennedy, nos parece fundamental para a compreensão das estratégias adotadas pelos Estados Unidos na sua política de contenção do avanço comunista na região.

DOI: https://doi.org/10.46752/anphlac.29.2020.3914


Antifascismo, revolución y Guerra Fría en México: la revista América, 1940-1960

Jorge A. Nállim

Resumo: El artículo analiza la revista América en 1940-1960 como un espacio político-cultural privilegiado para el estudio de procesos históricos nacionales, regionales y transnacionales. Nacida de la confluencia de grupos vinculados al estado revolucionario mexicano, la izquierda y el exilio español en México, delimitó un programa original en defensa de la Revolución Mexicana, el antifascismo, los aliados en la Segunda Guerra Mundial y el exilio republicano español. Eventualmente, en el período de post-guerra y en un proceso de continuidades y rupturas, mantuvo su firme adhesión gobierno y partido revolucionarios, dio mayor cabida a temas culturales y artísticos y se vinculó a grupos locales e internacionales relacionados con la Guerra Fría cultural a favor de Estados Unidos. El análisis de los grupos, ideas y transformaciones de América permite, así, identificar aspectos relevantes de la trama social, política e ideológica detrás del mundo cultural mexicano de la época.

DOI: http://dx.doi.org/10.22201/cialc.24486914e.2020.70.57164

2019

“Transição política” e ditadura no Brasil: os anos 1970 e seus agendamentos políticos e intelectuais

Julio Cattai e Wanderson Chaves

Resumo: O artigo é prospectivo e encerra uma proposta de agenda de pesquisa. Apoia-se em recentes descobertas historiográficas e na pesquisa material dos autores e investiga o estabelecimento de uma tendência dos anos 1970: a da imaginação de projetos de prospecção da democracia, a partir da ditadura, por meio de agendas de “transição política”. O foco da análise é duplo, mas relacionado: por um lado, apontamos formas como tais projetos foram agenciados, a partir de saberes e práticas intelectuais, entre temáticas como direitos humanos, questão social e Estado de Direito; de outro, sinalizamos a renovação, na década de 1970, das estratégias norte-americanas de Guerra Fria, fornecedora de vetores de agendamento e institucionalização, decisivos na constituição de modelos de “transição democrática”.

DOI: https://doi.org/10.1590/1806-93472019v39n82-10


As redes editoriais do ILARI no Rio da Prata e a modernização das ciências sociais durante a Guerra Fria cultural latino-americana

Karina Jannello

Resumo: O Instituto Latino-Americano de Relações Internacionais (ILARI), financiado pela Fundação Ford e vinculado ao controverso Congresso pela Liberdade da Cultura (CLC), estimulou desde seu início, em 1965, a renovação das ciências sociais na América Latina por meio de encontros e pesquisas, bem como da publicação da revista Aportes e de acordos com editoras locais, como Paidós e Jorge Álvares, de Buenos Aires, e Alfa, de Montevidéu. Este trabalho aborda as políticas editoriais do ILARI, que se transformaram em um canal de legitimação e promoção da figura do cientista social, cuja emergência deve ser compreendida no marco da Guerra Fria cultural, marcada pelos debates sobre as possíveis vias de desenvolvimento das sociedades periféricas. Essa figura, que acaba por suplantar a do ensaísta e disputa espaço com as do intelectual comprometido e do intelectual revolucionário, aparece legitimada por um discurso sobre a modernização, associado a uma produção “objetiva” de saberes.

DOI: https://doi.org/10.26512/cmd.v6i1.21902


Dois países, o mesmo dilema? Reflexões sobre a democracia e o racismo nos Estados Unidos e no Brasil

Gustavo Mesquita

Resumo: Roger Bastide e Florestan Fernandes atuavam em pesquisas sobre relações raciais financiadas por organizações internacionais quando, na década de 1960, os Estados Unidos criaram ações afirmativas para responder à sua desigualdade racial. As conclusões dos sociólogos estimularam discussões acerca do mesmo problema no Brasil. Entendeu-se naquela época que também temos um dilema, ou seja, uma democracia fracionada, excludente da população negra. Discuto neste artigo a formação do pensamento sociológico de Bastide e Fernandes à luz de teses norte-americanas de relações raciais, assim como o impacto deste pensamento no debate sobre racismo brasileiro.

DOI: https://doi.org/10.1590/S2178-14942019000200006


Parceiros em quê? A Aliança para o Progresso e a política editorial de modernização da América Latina no contexto da Guerra Fria

Josiane Mozer e Rafael R. Ioris

Resumo: A Aliança para o Progresso, política elaborada pelo governo Kennedy, no início dos anos 1960, com fins de promover o desenvolvimento nos moldes capitalistas na América Latina, assentava-se sob um dilema de difícil conciliação. Por um lado, as demandas da região por desenvolvimento econômico não poderiam mais ser ignoradas; por outro, percebia que um desenvolvimento autônomo da América Latina, nos moldes idealizados pela Aliança, poderia levar a uma diminuição da influência regional dos Estados Unidos. Entre as pressões dos países latino-americanos e os interesses hegemônicos dos Estados Unidos, a Aliança foi rapidamente assumindo contornos coercitivos e ideológicos, esvaziando de sentido a proposta de parceria para o bem comum. Baseando-se em documentação produzida pelo Departamento de Estado e pela Agência de Informação dos Estados Unidos (USIA), o presente artigo tem por objetivo tratar da ação ideológica da Aliança para o Progresso. O foco da reflexão apresentada se centra na análise da política editorial implementada ao longo dos anos 1960, que buscava influenciar os debates sobre desenvolvimentismo travados no Brasil e na América Latina e, assim, promover a defesa de um capitalismo adequado à hegemonia estadunidense. A análise demonstra que, apesar de inovadora e ambiciosa como política externa hemisférica, a implementação da Aliança foi permeada por continuidades ideológicas e preocupações geopolíticas tradicionais do relacionamento dos Estados Unidos com a região latino-americana.

DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7976.2019.e61478


Literaturas de fronteira: companheiros (d)e viagens à URSS no Brasil contemporâneo (1940-1960)​​​​​​

Ana Paula Palamartchuk

Resumo: No cenário literário brasileiro do início da década de 1950, chama a atenção a publicação quase simultânea de O mundo da paz (1952) e Os subterrâneos da liberdade (1954) de Jorge Amado, e Viagem (1954) e Memórias do cárcere (1954) de Graciliano Ramos. Romancistas brasileiros já consagrados pela crítica e pelo público, ambos revelam nessas publicações a radicalidade com a qual se identificam com o comunismo e com a experiência soviética. Ao mesmo tempo, os relatos de viagem e os livros de memória, se vistos em conjunto, evidenciam a presença de duas tradições narrativas: a literária propriamente dita e a do engajamento político dos intelectuais. Assim, o que se pretende aqui é apresentar como essas duas tradições aparecem na obra dos dois escritores, em especial, em seus relatos de viagem à URSS. Do ponto de vista da militância política e dos recursos literários, ambos escritores se utilizaram, nesses títulos, do “gênero de fronteira” para partilhar com seus leitores algum tipo de comprometimento com a história da política nacional recente, com o comunismo e para avalizar a experiência soviética.

DOI: https://doi.org/10.4025/dialogos.v23i2.46183


Cultura, Política e Guerra Fria: A Sociedad de Escritores do Chile nos anos 1950​​​​​​

Jorge A. Nállim

Resumo: Durante a década de 1950, a Sociedade de Escritores do Chile enfrentou disputas intensas com o Comitê pela Liberdade Cultural do Chile – o braço local de uma grande instituição da Guerra Fria cultural estado-unidense – que tentava ganhar o controle da associação. Estas disputas revelam o papel que desempenhou a Guerra Fria cultural na quebra de velhas alianças políticas e culturais no Chile. Também destacam as redes transnacionais que conectavam os escritores chilenos durante a Guerra Fria, a articulação complexa de contextos locais e internacionais e as agendas que influenciavam grupos culturais e políticos.

DOI: https://doi.org/10.1017/S0022216X18000755

2015

O Ilari e a guerra cultural: a construção de agendas intelectuais na América Latina​​​​​​

Elizabeth Cancelli

Resumo: Este artigo se volta para a análise das políticas culturais e envolvimento de intelectuais na guerra cultural. Seu foco é o Ilari (Instituto Latino-Americano de Relações Internacionais), órgão do Congresso pela Liberdade da Cultura (CCF). Se a literatura e as artes plásticas, ou belas-artes, haviam sido a tônica de investimentos do CCF nos anos 1950, a nova ênfase, na fase pós- Revolução Cubana, foi o financiamento e apoio às Ciências Sociais e à criação de "problemáticas latino-americanas". Neste trabalho, apontamos como foi construída essa agenda e como começou a haver certo descompasso entre as políticas do CCF e os regimes ditatoriais que se instalavam na América do Sul, ainda que com respaldo logístico e político dos Estados Unidos.

LINK: http://www.seer.ufu.br/index.php/artcultura/article/view/34822